segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sobre Realengo e os Psicólogos

A tragédia de Realengo reacende, mais uma vez, antigos debates dentro do campo psi, principalmente no que diz respeito à sua relação com a mídia: um psicólogo vir a público fazer um diagnóstico indica que este está interessado somente na sua autopromoção ou o interesse é em ajudar na promoção de um show de horrores que ajuda a aumentar audiêncai.Para profissionais preocupados com a prática psicológica, não há outro motivo que justifique sua presença ali, distribuindo diagnósticos. Compactuar com isso é banalizar a profissão do psicólogo, é desqualificar a sua formação e ajuda a promover tão somente estereótipos em cima de pessoas que sofrem. Afinal, numa situação em que temos um crime violento, em que o próprio autor do crime se suicidou, qual a serventia de diagnosticá-lo como psicótico? Um diagnóstico tem função precisa: estabelecer caminhos para tratamento. Diagnosticar um falecido, em momentos de comoção pública, serve apenas para atemorizar a população: se digo, com o ar de especialista, que se trata de um esquizofrênico, como fica no imaginário popular nesse momento em que estão todos consternados a imagem dos psicóticos? Com a pecha de assassinos? Sabemos que essas respostas violentas são possíveis, mas não são as únicas que os psicóticos constroem. Em vez de termos a oportunidade de discutir o que é a psicose, desmistificá-la, pensar tratamentos, acabamos apenas responsabilizando uma afecção como responsável pela tragédia. Além de disseminar ainda mais uma prática de medicalização do sofrimento psíquico, ajuda a promover a idéia retrógrada de que a escola deva ser um local vigiado, fechado e sem inserção social. Não seria uma boa oportunidade de discutrimos a educação pública, a segurança pública, a saúde pública, as condições e direitos do trabalhador a tratamentos psicológicos? Discutir e pensar estratégias de articular essas políticas? Estigmatizar um sofrimento como a responsabilidade total, além de difundir pânico e desinformação, impede que as questões realmente relevantes sejam debatidas. E assim prossegue a gama de desinformações,estereótipos e práticas que não levam em consideração o sujeito e que deixam de lado o exercício da cidadania.