terça-feira, 27 de março de 2012

Medicamentos Psiquiátricos



Com a máxima ‘toda doença mental é, antes de tudo, uma doença cerebral’, Wilhelm Griesinger reforça, em 1845, a afirmação de que toda psicopatologia tem uma causa orgânica. Tal teoria adquiriu maior impulso na década de 1950, através da descoberta de que alguns medicamentos alteravam os níveis de neurotransmissores e, consequentemente, o estado psíquico da pessoa. Importante destacar que esses medicamentos não haviam sido desenvolvidos, inicialmente, para o tratamento do sofrimento psíquico. Eles eram provenientes de remédios que tinham a finalidade de combater infecções e se descobriu, casualmente, que um de seus efeitos era a alteração de algumas substâncias químicas cerebrais.

Desde então, alguns pesquisadores passaram a postular que a etiologia do sofrimento psíquico é um desequilíbrio neuroquímico, sendo a causa definida pelos efeitos de alguns psicofármacos. Temos como exemplo a depressão: defende-se que ela é causada pela deficiência de serotonina no cérebro, uma vez que a descoberta de uma droga chamada iproniazida, usada inicialmente para tratar pessoas com tuberculose, tinha como efeito colateral o aumento dos níveis desse neurotransmissor. E como não poderia deixar de ser, passou-se a defender que o tratamento dessas doenças seja essencialmente medicamentoso. Ou seja, temos a definição de uma causa a partir de efeitos casuais, e não de pesquisas etiológicas. E sem contar que temos, ainda, a questão sobre o diagnóstico das psicopatologias: qual instrumento é utilizado? Ele é válido clinicamente? Somos obrigados então a questionar: os medicamentos podem ser considerados a única forma de tratamento?

Por esta razão, alertamos aqui sobre o uso indiscriminado das drogas psiquiátricas. No Brasil, entre 2005 e 2009, observou-se o aumento de 44,8% de vendas (de R$647,7 milhões para R$ 976,9 milhões) de medicamentos anti-depressivos, e de 2000 para 2004, houve o aumento de 1020% de vendas de caixas de metilfenidato, estimulante usado no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. 

Entretanto, mesmo diante dessas problematizações, não podemos negar a relevância do uso de psicofármacos na Saúde Mental. Para tal, em termos de políticas públicas, temos a Portaria nº1077/GM de 24 de Agosto de 1999, na qual estabelece o Programa para a Aquisição dos Medicamentos Essenciais para a Área de Saúde Mental. Esse Programa faz parte da Política Nacional de Medicamentos e é responsável por prescrever as responsabilidades dos gestores do Sistema Único de Saúde nessa área, bem como os recursos financeiros necessários para “complementar o tratamento daquelespacientes que necessitam de medicamentos para o controle dos transtornosmentais”.

No âmbito estadual, existe em Minas Gerais o Plano Estadual de Estruturação da Rede de Assistência Farmacêutica, que consiste na definição de um modelo de assistência farmacêutica no SUS. Também conhecido como Farmácia de Minas, este Plano é dividido em três componentes: Medicamentos para Atenção Primária à Saúde, Medicamentos de Alto Custo e Medicamentos Estratégicos. Os medicamentos psiquiátricos, por sua vez, são classificados como medicamentos básicos e pertencentes à atenção primária, sendo que alguns antipsicóticos e ansiolíticos são considerados medicamentos de alto custo.

O que propomos aqui é a reflexão de como o tratamento dos sujeitos em sofrimento psíquico deve ser conduzido de modo que não ocasione em uma hipermedicação. Os dados acima indicam que isso está ocorrendo no Brasil. No entanto, a medicalização é apenas uma forma de neutralizar os sintomas do sujeito e não uma forma de cura, uma vez que não leva em consideração seus aspectos sociais e subjetivos. 

terça-feira, 20 de março de 2012

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB



O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - o FUNDEB - foi criado pela Emenda Constitucional n.º 53/06, com o objetivo de proporcionar a elevação e uma nova distribuição dos investimentos em Educação. O FUNDEB teve também a função de substituir o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF - que era, até então, o fundo responsável pela redistribuição dos recursos vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental.

O FUNDEB tem a intenção de estender a abrangência do Fundo para todas as etapas e modalidades de educação básica. Além disso, a experiência do FUNDEF e o aprendizado que esse possibilitou trouxeram a reflexão acerca de quais elementos desse mecanismo deveriam ser preservados ou evitados. Criou-se então, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, um Fundo para levantamento das matrículas presenciais e de distribuição dos recursos.

Por se tratar de um Fundo de natureza contábil o FUNDEB não é considerado privativo da esfera Federal, Estadual ou Municipal. Outros fatos que vão nesta mesma direção: a arrecadação e distribuição dos recursos que o formam serem realizadas pela União e pelos Estados, com a participação do Banco do Brasil, como agente financeiro do Fundo; os recursos são provenientes das três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal); e, por fim os créditos dos seus recursos são realizados automaticamente em favor dos Estados e Municípios de forma igualitária, com base no número de alunos.

Dentre as principais diferenças entre o FUNDEF e o FUNDEB, podemos citar o aumento do número de alunos contemplados com os recursos do fundo (de 30,2 milhões para 48,1 milhões de alunos). Isso se deu devido ao fato de que o FUNDEF abrangia apenas escolas de ensino fundamental e o FUNDEB passou a abordar também ensino básico e Educação de Jovens e Adultos - EJA. O FUNDEB vai proporcionar a garantia da Educação Básica a todos os brasileiros, da creche ao final do Ensino Médio.

A utilização dos recursos do FUNDEB é de no mínimo de 60% para remuneração dos Profissionais do Magistério da Educação Básica e o restante dos recursos em outras despesas de manutenção e desenvolvimento da Educação Básica pública. A distribuição dos recursos se dá com base no número de alunos da Educação Básica (Creche, Pré-Escolar, Fundamental e Médio), de acordo com dados do Censo Escolar do ano anterior, observada a seguinte escala de inclusão: alunos do ensino fundamental regular e especial - 100% a partir do 1º ano;  alunos da Educação Infantil, Ensino Médio e EJA - 33,33% no 1º ano; 66,66% no 2º e 100%  a partir do 3º ano. Em cada esfera municipal ou estadual serão considerados os alunos da educação básica que a respectiva esfera tem prioridade de atendimento, de acordo com a Constituição Federal.

É preciso esperar mais tempo e ter uma apuração mais profunda para saber se realmente as mudanças de FUNDEF para FUNDEB foram boas. O que espera-se é uma maior disponibilidade geral de recursos para a educação. Temos que sair do patamar de 5% para 7% do PIB, conforme pede o Plano Nacional de Educação, pois é desta forma que se pode garantir a viabilidade e o sucesso não apenas do FUNDEB, mas de uma melhora geral da educação brasileira.





terça-feira, 13 de março de 2012

Psicopatologia – Debate em São Paulo – 24/11/2011


Esta foi a última etapa dos debates preparatórios para o evento “Psicopatologia: um tema sempre em debate – Controvérsias sobre os DSM’s” (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que acontecerá em São João Del Rei, MG, em maio de 2012.

Este debate, realizado na USP, contou com a participação da Mestranda Karen Alves (LATESFIP/USP), da Profª. Drª. Christiane Carrijo (UNESP/Bauru) e do Prof. Dr. Antonio Teixeira (PSILACS/UFMG). Para a apresentação dos convidados e da proposta do movimento ‘STOP DSM’ estavam presentes o Prof. Dr. Christian Dunker (LATESFIP/USP) e o Prof. Dr. Fuad Kyrillos Neto (LATESFIP/UFTM).

A Mestranda Karen Alves tratou de aspectos gerais dos DSM’s, como a exclusão de teorias que não se fundamentam em estudos estatísticos e bases orgânicas, além de levantar o problema da almejada linguagem única pelos cientificistas.

A Profª. Drª. Christiane Carrijo refletiu, a partir de uma Psicopatologia Crítica sobre as contribuições que a psicanálise poderia oferecer para a chamada pós-modernidade. Para isso ela abordou três cenários: o primeiro acerca das polêmicas em torno dos DSM’s; o segundo levanta o questionamento da existência de uma ética da psicanálise como uma proposta para a reflexão de uma Psicopatologia Crítica; e o terceiro cenário a respeito do crescente aumento estatístico de doenças mentais e sua precocidade.

O Prof. Dr. Antonio Teixeira chama atenção para as diferenças entre um protesto e um movimento. Com base nesses argumentos, ressalta a importância do Movimento STOP DSM. Afirma que este movimento deve ser intransigente em relação ao DSM, pois existe uma incompatibilidade teórica entre os DSM’s e a clínica psicanalítica.

Nesta edição divulgamos apenas as falas dos convidados. Para a versão completas, comentários finais e perguntas da audiência acesse os links a seguir: Mestranda KarenAlves, Profª. Drª. Christiane Carrijo, Prof. Dr. Antonio Teixeira, Prof. Dr. Christian Dunker e perguntas

Estão também disponíveis os vídeos completos dos debates em São João Del Rei e em Belo Horizonte.

terça-feira, 6 de março de 2012

Programa Universidade para Todos - Pro-Uni


O Programa Universidade para Todos - ProUni foi criado em 2004 pelo Governo Federal por meio da Medida Provisória (MP) nº 213, de 10 de setembro de 2004 que foi depois convertida na Lei 11.096, de 13 de janeiro de 2005 e regulamentada pelo Decreto nº 5.493, de 18 de julho de 2005. O objetivo desse Programa é oferecer bolsas integrais ou parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica a estudantes brasileiros em instituições privadas de educação. Estas instituições que aderiram ao programa recebem como benefício a isenção de alguns tributos. Para obter a bolsa o candidato precisa ter participado da edição imediatamente anterior do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem, obtendo a nota mínima de 400 pontos, precisa ter a renda familiar de até três salários mínimos, além de se encaixar em uma das condições estabelecidas pelo Ministério da Educação - MEC.


Até 2011 foram concedidas bolsas de estudo para 893.102 estudantes e, em 2012, foram oferecidas 195.030 bolsas, sendo 98.728 integrais e 96.302 parciais. O programa abrange todas as unidades da Federação, tendo a lista de instituições que participam divulgadas no site do MEC.

Inicialmente o ProUni recebeu críticas devido em parte ao receio que a implantação do Programa levasse à privatização do ensino superior e houvesse uma defasagem no repasse de recursos às instituições federais, foi também apontado como um programa assistencialista, visando somente o acesso ao ensino superior, transformando em benefício o que é direito.

A questão acerca da qualidade acadêmica dos alunos não se confirmou, pois de acordo com levantamentos do MEC, os universitários beneficiados pelo ProUni vêm obtendo, em média, notas superiores aos não bolsistas no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE - e seu percentual de evasão é inferior ao percentual observado no sistema universitário privado.

Para garantir a qualidade do ensino, a Lei nº 11.509 prevê a desvinculação do ProUni da instituição que receba 2 avaliações negativas consecutivas pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior - Sinaes -, que são verificadas através do ENADE somada a outras avaliações das condições do curso e da instituição. Além disso, a condição para a manutenção da bolsa aos estudantes é levado em conta o rendimento acadêmico.
Para atender a esse objetivo também trabalha com a dimensão de cota racial, destinando parte das bolsas a autodeclarados afrodescentes e indígenas, além de pessoas com deficiências. Os bolsistas possuem prioridade no Fundo de Financiamento ao Estudando do Ensino Superior (FIES) e um convênio firmado com a Caixa Econômica Federal - para oferta de estágios entre beneficiados pelo Programa.
Para tentar minimizar a dificuldades dos alunos em arcar com as despesas com material, alimentação e transporte, é oferecida a Bolsa Permanência, no valor de R$360,00. Esse benefício, entretanto, é concedido a um número ainda muito limitado de alunos e não supre satisfatoriamente as necessidades, fazendo com que muitos recorram ao financiamento ou à ajuda de terceiros para poderem se sustentar.

No dia 30 de março de 2010 foi publicada no Diário Oficial da União a Portaria nº 381 que criou o módulo internacional do ProUni, disponibilizando vagas em instituições estrangeiras para alunos carentes e com alto desempenho escolar, que contarão com isenção de taxas, passagens aéreas ida e volta para o Brasil, seguro saúde e bolsas para despesas com mensalidade e alimentação. tema que será aprofundado em outro momento.
O ProUni faz parte das várias políticas que vem sendo empreendidas no país com objetivo de democratizar o acesso à educação e ao ensino superior concedendo igualdade de oportunidades a todos. Para André Lázaro, "o desafio que o ProUni tem enfrentado diz respeito à promessa de tornar a educação um fator de mobilidade social para indivíduos e também um fator de redução das desigualdades da própria sociedade. Ao estabelecer cotas para afrodescentes e indígenas, o Programa indica um caminho a ser seguido: a educação deve gerar oportunidades para vencer as desigualdades. Não será a educação isoladamente o único caminho para o enfrentamento da desigualdade em nosso país. Mas se alcançarmos, neste campo, padrões mínimos de equidade de acesso, permanência e sucesso, haverá mais vozes mais atores empenhados e qualificados para a necessária transformação do ambiente social, econômico e cultural do país”. (p. 27)