terça-feira, 27 de agosto de 2013

Medicalização da Infância - TDA/H nas escolas




A sociedade contemporânea vive um processo crescente de medicalização de todas as esferas da vida, mas, principalmente, a da infância. Medicalização aqui é entendido como o processo de transformar tudo que acontece na vida do sujeito em questões biológicas ou médicas, ou seja, problemas de diferentes ordens são sempre caracterizados como transtornos ou distúrbios. Classificadas como “doentes”, as pessoas passam a serem vistas como pacientes e são induzidas a aderirem tratamentos medicamentosos que transformam o seu próprio corpo no alvo de resolução de problemas que deverão ser sanados individualmente. A responsabilização passa a ser somente do sujeito que perturba e que não se adapta ao meio. 

Um exemplo dessa realidade é o que acontece com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDA/H). Caracterizado com comportamentos hiperativos, inquietudes motora, desatenção marcante, baixo envolvimento nas tarefas e impulsividade, os seus sintomas são normalmente apresentados na escola e persistem ao longo dos anos escolares podendo continuar na idade adulta. Segundo Rossano Cabral Lima, em seu livro Somos todos desatentos?, o pioneiro em descrever como condição médica diversas condutas infantis que, até então, eram tratadas como maus comportamentos foi o pediatra inglês George Frederic Still. Desde então, em diversos países como Brasil e Estados Unidos há uma imposição da visão organicista e neurobiológica das dificuldades encontrados no contexto escolar e familiar. 

O aspecto organicista de homem e mundo atinge a mídia, pais e professores subordinando a todos a uma visão de normalidade tendo o comum, o “normal” como um ideal a ser seguido. O  TDAH  é incorporado  ao vocabulário dos pais e professores na descrição de seus filhos/alunos que lhes trazem dificuldades, designando  essas crianças como crianças ­problema. Muitas vezes, há falha na escola por não conseguir lidar com as diferenças entre alunos e, ao invés de questionamentos e perguntas buscando melhorar ou desenvolver a instituição, acabam optando por mudanças focadas na criança utilizando-se de meios medicamentosos. 

Conhecida como a droga da obediência, a Ritalina ou Concerta, é consumida exacerbadamente. Seu consumo cresceu exponencialmente nos únicos anos: de 71 mil caixas do medicamento em 2000 para quase 2 milhões de caixas no ano de 2009. O número de crianças diagnosticada a cada dia só aumenta. O Brasil é o segundo maior consumidor do medicamento, ficando atrás somente dos Estados Unidos. E os números assustam: nos Estados Unidos pelo menos 9% das crianças são diagnosticadas e no Brasil, mais 10 milhões de brasileiros convivem com esse “transtorno”. No ano de 2008, a ONU publicou um relatório contendo o número de produção e consumo da droga. A produção mundial da droga passou de 2,8 toneladas em 1990 para quase 38 toneladas em 2006. Tudo isso é ocasionado pelo dignóstico precoce como também pela intensa publicidade do medicamento a partir das empresas farmacêuticas. O consumo dos norte-americanos representa hoje 82,2% de todo medicamento consumido no mundo. 

Esse movimento de intenso crescimento no consumo de Ritalina no Brasil e no mundo, fez com que muitos pesquisadores chegassem a uma conclusão: há uma medicalização da infância, da aprendizagem e da vida. Esse movimento de culpabilização somente da criança tem deixado um rastro assombroso, só no estado de São Paulo, entre os anos de 2005 e 2010 a dispensação de comprimidos cresceu 1.645%. Os dados são de um levantamento feito pelo CRP-SP com informações de 287 municípios.

O crescimento no consumo da droga nos faz questionar até que ponto podemos dizer em um tratamento, em uma possível qualidade de vida. Acontece hoje uma instrumentalização do psiquismo e da aprendizagem, chegando até a levantar a hipótese de que a medicalização é usada como saída para  esconder falhas no sistema educacional, ou seja, muitos professores ou mesmo a própria escola não estão preparados para receber as crianças e suas singularidades, rotulando e caracterizando comportamentos ditos não normais como um déficit. Não há aqui uma recusa do tratamento medicamentoso, porém este não pode ser uma tentativa de calar aquele que incomoda, não pode ser uma centralidade. 

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terça-feira, 20 de agosto de 2013

PROJOVEM CAMPO - SABERES DA TERRA






O Projovem Campo - Saberes da Terra  é um programa que tem por objetivo oferecer oportunidade aos jovens agricultores familiares, na faixa etária entre 18 e 29 anos, de concluir o Ensino Fundamental, elevando assim sua escolaridade. Segundo o Projeto Base – 2009 ,“mais amplamente, é objetivo do Programa contribuir para a formação integral do jovem do campo, potencializando a sua ação no desenvolvimento sustentável e solidário de seus núcleos familiares e comunidades, por meio de atividades curriculares e pedagógicas, em conformidade com o que estabelecem as Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo – Resolução CNE/CEB Nº 1 de 03 de abril de 2002”.

São disponibilizados recursos financeiros para a formação das turmas, integrando qualificação profissional e apoio à elaboração de propostas pedagógicas que busquem a formação desses jovens, em consonância com seu contexto histórico, político e social. As ações do Programa também visam à especialização e atualização pedagógica dos educadores que atuam nessa área.

Criado em 2005 , com o nome Saberes da Terra, foi integrado, em 2008, ao Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem). O curso tem a duração de dois anos e funciona pelo método de alternância, que consiste em alternar períodos de aulas tradicionais com períodos de aplicação supervisionada dos conhecimentos na comunidade. Dessa forma, busca-se que o aluno aprenda conteúdos e técnicas que lhe sejam úteis e possam ser colocados em prática em sua vivência no campo.

A população do campo necessita de uma educação que considere suas especificidades, uma vez que se trata de uma parcela considerável da população do país. Dados referentes ao ano de 2006 mostram que 26,16% dos jovens agricultores não concluíram o primeiro segmento do Ensino Fundamental e 61,8% não concluíram a segunda metade, enquanto que na cidade os números apontam para 18% e 30%, respectivamente.

Alguns autores apontam que o conceito de Educação no Campo é recente e que as políticas voltadas para esse setor surgiram da pressão dos movimentos campesinos para que se criassem políticas públicas que beneficiassem o ensino no meio rural. Esse segmento da população não tem participado da construção dos parâmetros das teorias pedagógicas, ficando muitas vezes às margens do processo educativo.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Os Consultórios de Rua - Parte II


No dia 30 de julho (acesse aqui), postamos uma discussão no blog sobre os Consultórios de Rua, expondo quais são suas práticas, seus princípios norteadores e sua operacionalização.

Nesta segunda postagem sobre os Consultórios de Rua, entrevistamos o Prof. Marcelo Dalla Vecchia, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ).

Prof. Marcelo nos contou, em entrevista, sobre sua experiência no Consultório de Rua (CR) do município de Barbacena, Minas Gerais. Sua participação se deu por meio de uma assessoria na implantação do CR de Barbacena, desde abril do ano passado, por meio da qual colaborou na elaboração e acompanhamento de indicadores de avaliação e monitoramento da implantação da proposta, formalizada em um convênio entre UFSJ e Departamento Municipal de Saúde Pública de Barbacena.

O relato de experiência completo do Prof. Marcelo está no vídeo acima. Confiram!



terça-feira, 6 de agosto de 2013

Programa Segundo Tempo



O Programa Segundo Tempo foi criado em 2003 pelo Ministério do Esporte e tem por objetivo incentivar a prática esportiva nas escolas. Em 2009 o Ministério do Esporte e o Ministério de Educação e Cultura integraram suas políticas de modo que as condições necessárias para a oferta do esporte na escola, integrado ao seu projeto pedagógico e na perspectiva da educação em tempo integral, fossem alcançadas. Desde então o Programa Segundo Tempo está sendo inserido nas escolas do Programa Mais Educação, que prevê a oferta de atividades optativas na escola integradas a diversas áreas do conhecimento.

De acordo com o site oficial, a integração dos dois programas amplia as possibilidades de oferta de esportes, já que esse pode se dar em espaços alternativos, não sendo exigido que a escola possua infraestrutura esportiva. A parceria possibilita também a execução do programa diretamente nas escolas, sem a necessidade de serem firmados convênios com outras instituições. Com essa integração foi possível ampliar o número de beneficiados pelo programa, desenvolvendo a proposta pedagógica do Programa Segundo Tempo articulada com o projeto pedagógico da escola.

Além da integração entre os dois programas, a priorização dada pelo Ministério do Esporte às políticas esportivas educacionais e de inclusão social tornou possível um grande crescimento do Programa Segundo Tempo, que atualmente atende, de acordo com o site do Ministério do Esporte, 1,2 milhões de beneficiados por ano. Mesmo com a ampliação, ainda está longe de atender a maioria dos estudantes matriculados nas escolas públicas de educação básica brasileiras que, segundo o censo de 2010, somam 40 milhões de alunos.

Já o Programa Segundo Tempo Universitário é um desdobramento do Programa Segundo Tempo criado pelo Ministério do Esporte em 2010, que visa democratizar o acesso à cultura do esporte, incentivando a prática esportiva entre os universitários como um fator de qualidade de vida e combate ao sedentarismo.

Na Universidade Federal de São João del – Rei o programa foi implantado em 2011 a partir de um convênio entre o Departamento das Ciências da Educação Física e Saúde e o Ministério do Esporte. Atualmente são ofertadas 300 vagas nas seguintes modalidades: Badminton, Capoeira, Dança, Futebol de Campo, Futsal, Rugby, Vôley e Tênis de Mesa. As práticas esportivas acontecem nos campi Dom Bosco e Tancredo Neves. Para se inscrever o aluno deve acessar o site http://www.segundotempoufsj.com/.


O programa é coordenado pelo professor do curso de Educação Física Renato Sampaio Sadi, que é o nosso entrevistado dessa semana. Ele nos falou sobre o funcionamento do programa na universidade. Vale a pena conferir a entrevista!